Perdoem-me. Enlouqueci.
Não tenho a fibra que sempre quis ter.
Nos últimos dias, raramente faço sentido com o que digo.
Nos dias que correm, perseguem-me monstros que sobem as paredes nos becos pior iluminados. São sombras de tudo, são espectros do nada.
Difuso. Está assim o meu pensamento. Comparo-o frequentemente a um ninho de cobras:
- sobrepovoado, espesso, enlaçado.

Provei o sagrado, infligiu-me o profano, não me sobra agora novidade.
Ao procurar a distinção clara entre realidade e sonho, encontrei o equívoco.
Envenenei o meu físico, sujei a minha alma.
Conheci o respeito, provoquei o medo, fui insultado.

É um caminho que se faz depressa, a descida.
Este escasso momento em que me escondo da insanidade, é para atestar que parti.
Quem vão fixar é um perdido.

O efeito surpresa é algo subversivo.
Surpreende-nos, é súbito, não levamos preparação para aquilo com que somos presenteados. Do nada, desprevenidos, surge a novidade que quase sempre não é coisa boa.
Em que termos é perverso? Causa ansiedade, acelera o ritmo cardíaco, sem nos garantir satisfação.
Estas partidas que a vida nos vai pregando, são exames à nossa capacidade de reacção.
Os bons momentos duram pouco. São saborosos mas tendem a amargar.
É por isso que a nenhum dia devemos ser indiferentes. Todos contam.
Sinto necessidade de afirmar a minha presença, de deixar alguma marca, porque não vou estar por aqui sempre.
Todos os seres vivos pensantes têm a noção de que estão a dias do fim.
Ora, testemunhas da nossa mais ou menos breve passagem são os outros. A aproximação ao próximo é uma troca de essência, é abrir a alma.

«When they come...»

Quanta certeza temos?
Estima-se sempre insuficiente. Sem ela o risco é reduzido.
Como a quantificamos? Se a confiança é em demasia, ignoramos o erro provável.
O caminho é a dúvida.
Estamos certos? Duvido.