Resolvi-me, mas não me solucionei.
Ela auscultou-me. Ao entrar nos meus sonhos sem pedir licença, injectou-me vontade.
Explicou devagar que eu não tinha para onde fugir, seguia-me. E estávamos e não estávamos. Abandonamos a matéria e entrançamo-nos num quarto longe do ruído que nos confunde.
«Gosto da tua companhia.» - disse-lhe eu. «De quando me olhas e te perdes na multidão, sabes o que quero mas preferes que to diga.» E é tão justo.
A chave-palavra encerrada no meu âmago foi alcançada pelo teu braço contundente e delicado, elástico e perfumado.
E então, firme, voltei a caminhar.

A minha geração é toda a minha solidão.
É flor de ausência, sonho vão,
aparição, presságio, fogo de artifício,
toda vício,
toda boca,
e pouca coisa na mão.

JP Simões - 1970 [Retrato]

- Não me reconheço.
- É grave?
- Muito. Vou esconder-me.
- Onde?
- Longe. Em parte alguma.

Agastado pelo discurso se mostrar incoerente, por não fazer uso de palavras indicadas mas apenas convenientes, deixou-vos. A tal herança que o último ponto final não deixa revelar é um corpo. Qual tronco oco de braços para o céu (pediria misericórdia ou esperava suportar céu que caísse) paralisou. Não advém qualquer deficiência (isso seria demasiado sério, demasiado real para um fugitivo) desse acontecimento. Como consequência só posso apontar um alegre definhar, comparado à sensação de um esmagamento progressivo. A redescoberta aflige-me. Preocupa-me.
Let's pretend we don't exist.

Urgh! A Music War (1981), documentário assinado por Derek Burbidge é uma enorme recolha de concertos das bandas que deram que falar na altura. Foram etiquetados como post-punk ou new wave , e se maior atenção é dada aos megahitters Police, há vários nomes que são referência para o que se ouve agora neste movimento copycat que parece ter laivos de vida própria.
Fez-se história e nessas ocasiões não há desculpa para não ter imagens em arquivo, era imperdoável. Convém que as bandas de hoje (as que gostam de carregar o semblante avant-garde) ponham os olhos em cima disto.
Temos Devo, Pere Ubu, Gang of Four, XTC, o synth-pop de Gary Numan e OMD, Joan Jett, The Cramps e Dead Kennedys, também não falta o alien Klaus Nomi e o seu canto lírico desvairado.
E o lunático poeta de Manchester John Cooper Clarke:

the bloody train is bloody late
you bloody wait you bloody wait
you're bloody lost and bloody found
stuck in fucking chickentown

Houve uns tipos que me chamaram a atenção: Oingo Boingo! Liderados por nem mais nem menos que Danny Elfman (esse!). É o estilo que mais cultivo da era post-punk, a esquizofrenia experimental. Ainda Jools Holland, os Bunnymen...
Foi a oportunidade de ver performances de gente que admiro há muito.